O dia em que a Espanha perdeu a Catalunha
O mundo está perante um dilema, ao
observar os recentes desenvolvimentos na Catalunha. Nas últimas semanas, a
tensão tem escalado drasticamente com a realização do referendo à independência
convocado pelo governo catalão. Se por um lado, o tribunal constitucional
espanhol declara a realização do referendo ilegal, por outro lado os catalães
insistem na manifestação da sua vontade independentista, ignorando as ordens do
governo espanhol, num quase tom de desafio.
Assim, com a realização forçada do
referendo, o caos instala-se. Polícia de choque tem de conter multidões, medidas
de violência contra as mesmas são tomadas, provocando centenas de feridos, bombeiros voltam-se contra a polícia, protegendo eleitores nos locais
“ilegais” de votação, etc.
Contudo, há varias questões que
dividem o público neste aspeto, principalmente as questões acerca da decisão
legal em relação a todo este processo. Principalmente, a mim surge uma: porquê
considerar o referendo ilegal?
É transversal a quase todas as
nações que referendos ou movimentos contra a independência de uma região seja
definido como, de certa forma, ilegal aos olhos da constituição de um país que
a contenha, uma vez que, naturalmente, considera isso como uma ameaça à sua
soberania e integridade territorial. Afinal, nenhum país quer que as diferenças
socioculturais entre as suas várias regiões sejam motivo de separação. O mundo
já viu várias vezes isto a acontecer, como foi o caso do referendo da
independência da Escócia ou o mais recente “Brexit” (onde, embora não seja um
pedido de independência, os mesmos princípios se poderiam aplicam). Contudo, a Espanha,
na reação a esta investida, comete o pior erro de todos ao proibir, de forma radical, a realização do referendo. Com esta reação, o governo espanhol está agora nos
sapatos do “mau da fita”, que usou a violência para oprimir uma vontade
fundamental da expressão política de um povo, com um travo de censura ditatorial
à mistura. É difícil olhar para o que aconteceu e ficar conformado com as
palavras de Rajoy quando diz, arrogantemente, que "não houve um referendo", apenas uma "encenação", e que foram os catalães que provocaram a violência. Enquanto a resposta do governo espanhol
poderia ter sido mais ponderada, ignorando a validade do referendo em vez de a
proibir, os catalães saem assim porta fora com a independência praticamente na mão.
O que vemos hoje é, portanto, uma
Catalunha cansada da sua relação disfuncional com Espanha, chegando
a um ponto de saturação. O resultado deste referendo, aqui, não podia ser
mais óbvio – 90% votaram a favor da independência. Sabendo que esta questão já
remonta vários anos, e que são evidentes as diferenças culturais da região
catalã em relação ao resto do país, a Espanha pode muito bem ter dito, este
Domingo, adeus à Catalunha.
Depois do que se viveu este fim de semana na nossa vizinha Espanha, nada voltará a ser como dantes. Não há retrocesso possível e a caminhada para a independência está perto da meta.
ResponderEliminarNunca estes actos são pacíficos, nenhum estado soberano aceita alienar de ânimo leve uma parte do seu território e a prová-lo estão as várias revoluções registadas ao longo dos séculos.
Cabe agora aos entendidos averiguar as questões de legalidade e legitimidade dessa pretensão à independência por parte dos catalães.
Para mim, creio que nenhuma das partes sairá a ganhar com essa separação, nem a nível político, nem cultural e muito menos a nível económico. É talvez um valente "tiro no pé" este acto de autodeterminação... mas o futuro encarregar-se-á de mostrar se estou certa ou errada.
Na minha opinião fazes uma análise equilibrada do que está em causa. É muito provável que a Espanha virá a ser diferente do que é hoje. Só ninguém sabe quando e como.
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